terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

A VIOLÊNCIA URBANA CAUSA PROFUNDA

A VIOLÊNCIA URBANA CAUSA PROFUNDA JOÃO BATISTA BRAGANÇA "A violência está de tal modo arraigada em cada um dos passos e gestos do homem que não se pode deixar de indagar se ela é um fenômeno típico de nossa epoca" "É o atraso moral do Espírito o responsável pelas expressões de violência que manifesta, não sendo as condições ambientes mais do que fatores de agravamento ou de diminuição dessas expressões” A violência, na atualidade, faz parte da rotina, especialmente da rotina das grandes cidades. Independentemente de sua intensidade, ela está presente nos bairros sofisticados e nas favelas, no centro e na periferia, atingindo a todos. A primeira imagem que nos ocorre em relação à violência é a da agressão física. Mas, o que é violência? Quais as suas formas e como ela se manifesta? É sempre fácil identificá-la? Procuremos refletir sobre o assunto, buscando as informações em obras que dele tratam do ponto de vista exclusivamente materialista e em obras espíritas, em que é examinado do ponto de vista espiritual, para que possamos adquirir uma visão mais precisa desse tema tão atual. A violência é definida como: “constrangimento físico ou moral; uso da força; coação” . Nilo Odalia , professor titular de Filosofia da Universidade do Estado de São Paulo em Araraquara, apesar de evitar definições, considera a vio¬lência sob a forma de privação, dizendo que “todo ato violento significa tirar, destituir, despojar alguém de alguma coisa'\ Com essa idéia de privação, segundo ele, fica mais fácil descobrir a vio-lência onde ela estiver, por mais camuflada que esteja sob monta¬nhas de preconceitos, costumes, leis e legalismos. A violência está de tal modo arraigada em cada um dos passos e gestos do homem que não se pode deixar de indagar se ela é um fenô¬meno típico de nossa época. O viver em sociedade, entretanto, foi sempre um viver violento. Por mais que recuemos no tempo, ob servamos que a violência está presente, cm suas várias faces. A violência que caracterizou o homem pré-histórico, contudo, não tem o mesmo contorno, a mesma signifi¬cação desta que ocorre em sociedades complexas e diferenciadas. A violência iniciada no gesto do hominídeo que descobriu a utilização de ossos como arma contundente e mortal não é a mesma que a do ho¬mem contemporâneo, expressa no latrocínio, no estupro, no seqüestro, no crime hediondo. No decorrer da civilização, vemos a violência delinear-se diferentemente, recobrir-se de formas sutis, ser institucionalizada muitas vezes. Isso porque o ato violento não traz em si uma etiqueta de identificação e por isso nem sem¬pre é percebido como tal. Além da violência que se traduz pela agressão, existem outras formas de violência como: escravidão (uma das mais degradantes); violência no trânsito; poluição ambiental; utilização indiscriminada de agrotóxicos; analfabetismo; discriminação de raça, cor, sexo, religião; desemprego; precariedade de serviços de saneamento básico; leis que impedem classes sociais de se organizarem; domínio de massas pela manipulação dos meios de comunicação e outros processos. Cada um desses fatos é uma violência social ou política, que denigre o ser humano, negando a própria razão de se viver cm sociedade. A violência urbana, traduzida pela agressão mais explícita, é bem retratada pelo Dr. Edmundo C. Coelho , professor do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro. Segundo esse autor, até a primeira metade da década de 60, o assalto a banco e seqüestros com resgate eram mo¬dalidades de crime desconhecidas no Brasil; o tráfico de tóxicos era reduzido e sem estruturação; os homicídios eram mais de natureza passional do que resultantes de atividade organizada, como quadrilhas, esquadrão da morte, etc. Informa ainda o professor que se modificaram os padrões do crime e se elevaram as taxas de criminalidade. Violências como assalto à mão armada, o latrocínio, o estupro alteram os hábitos dos cidadãos, hoje enclausurados em suas moradias, deterioriando sua qualidade de vida Isso se expressa também no resultado consistente de inúmeras pesquisas que apontam a segurança como primeira reivindicação das populações metropolitanas. E quais seriam as causas dessa violência? Do ponto de vista das instituições materialistas, a questão é polêmica e apresentada em duas posições . Uma, designada como justiça distributiva, diz que a violência está relacionada com o desenvolvimento econômico e as disparidades sociais. O criminoso seria vítima das precárias condições socioeconômicas a que a sociedade o relegou. Para reduzir a criminalidade violenta a níveis aceitáveis, a solução seria a adoção de políticas de erradicação da pobreza, do analfabetismo, do desemprego, etc. A outra, designada como justiça retributiva, relaciona a violência com a impunidade e as falhas no aparato de repressão, que debilitariam o sentimento de respeito às leis e estimulariam a criminalidade. Para reduzi-la, a solução seria a adoção de medidas dissuasórias rigorosas como aparelhamento da força policial; aperfeiçoamento da máquina judiciária para apreensão certa e rápida do criminoso; mais rigor na aplicação das penas e no cumprimento das sentenças. Sem menosprezar as conclusões de sociólogos e estu¬diosos do assunto, devemos refletir sobre esse importante tema, com o socorro e a luz do Espiritismo, abrangendo o ponto de vista espiritual. A Doutrina dos Espíritos nos esclarece que somos individualidades a caminho da perfeição, trazendo ainda conosco, no momento, muitos vícios, hábitos infelizes e paixões que expressam todo o nosso atraso espiritual ou moral, apesar do progresso intelectual já realizado. Informados, ainda, que essas características nos tem acompanhado cm nossas múltiplas existências e continuarão em nosso caminho, se não usarmos de vontade firme, para reduzi-las ou exterminá-las. Assim, basicamente, é o atraso moral do Espírito o responsável pelas expressões de violência que manifesta, não sendo as condições ambientes mais do que fatores de agravamento ou de diminuição des¬sas expressões. Dentre os vícios ou imperfeições que caracterizam o atraso moral do Espírito e que se encontram na raiz de todos os seus males, inclusive o da violência com seus efeitos dolorosos, sobressai o egoísmo. Em “O Evangelho segundo o Espiritismo”, encontramos belíssima página sobre o egoísmo, de autoria do Espírito Emmanuel, o Benfeitor Espiritual a quem tanto devemos pela portentosa tarefa de Evangelização no Brasil, com a missão do livro espírita junto ao médium Chico Xavier. Nessa página, o egoísmo é destacado como causador de todas as misérias do mundo terreno, como antagonista da caridade e chaga que impede, ainda, a ascensão da Terra na hierarquia dos mundos . Muitos deliqüentes são formados na dura escola da miséria, na falta de orientação adequada. Há milhões dc pessoas no Brasil precisando urgentemente de calor humano, de interesse por sua sorte. Se os habitantes das grandes cidades brasileiras, sitiadas pela violência, fossem ao encontro do menor abandonado, certamente muito auxiliariam na solução do problema. Todos ansiamos pela lei e pela ordem, entretanto, só há uma lei capaz de acalmar os ânimos e impor a ordem no mundo, harmoni¬zando indivíduos e coletividades: é a lei do Amor. Como nos ensina Simonetti: “A lei do amor é mil vezes mais eficiente do que a coerção, a repressão, a prisão, a ação policial, porque todos os recursos de força com os quais se pretenda conter os impulsos criminosos do homem o atingirão sempre de fora para dentro, como um ato de violência, provocando reações semelhantes e exacerbando sua agressividade. (...) O amor trabalha diferente. Opera de dentro para fora, atinge o indivíduo em sua intimidade, sensibiliza seu coração, contcm seus impulsos inferiores, desperta sua consciência, dispa¬ra dentro dele o processo de sua própria renovação.” Mas a Grande Mensagem do Cristo jaz esquecida de imensa parcela da Humanidade que vive em completa indiferença diante do próprio destino. A ignorância a respeito de nossa verdadeira natureza também está na raiz de nossos males. É ainda o Benfeitor Emmanuel quem nos socorre, ensinando- -nos que “o criminoso é sempre um de nós que foi descoberto”, conclamando-nos à tolerância, ao perdão, à remoção das causas profundas de nosso atraso moral, para que seja eliminada a violência da face da Terra . Sabemos que é chegada a hora da Renovação Moral, do conhecimento espiritual do homem, do conhecimento de si mesmo. Todos os valores estão sendo aferidos e uma Nova Era de mais compreensão se prenuncia. O momento de violên¬cia e dor que vivemos reflete essa transição e é preciso que os espíritas cristãos “estejam a postos, não para se salvarem da refrega que atingirá a todos, mas para que se¬jam exemplos vivos de trabalho edificante, de solidariedade, de fé e esperança"9. • 1.FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2a ed., 1986. 2.ODALIA, Nilo. O que é violência. São Paulo, Edilora Brasiliense, 2ª. ed., Coleção Primeiros Passos, 1985. 3.ODALIA, Nilo. Ibidem. 4.COELHO, Edmundo Campos. A criminalidade urbana violenta. In: Revista de Ciências Sociais. Rio de Janeiro, vol. 31, n2 2, 1988, págs. 145-183. 5.Idem, Ibidem. 6.KARDEC, Allan. “O Evangelho se¬gundo o Espiritismo'*. Rio de Janeiro, FEB, 109a ed., 1980. 7.SIMONETTI, Richard. A sociedade somos nós. In: REFORMADOR n2 1934, Rio de Janeiro, FEB, maio de 1990, pág. 146. 8.BACELLI, Carlos. À sombra do Abacateiro. Pág. 29, edição dc 1989. 9.SOUZA, Juvanir Borges de. Deveres. In: REFORMADOR n2 1944, Rio de Janeiro FEB, março de 1991, págs. 67-69. REFORMADOR, MAIO, 1995

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